O filme O Poço, produzido no País Basco, em território espanhol é o verdadeiro retrato da luta de classe na atual fase do capitalismo moderno. A obra apresenta como metáfora, um sistema prisional em que diferentes sujeitos se alimentam de pratos dos grandes chefes de cozinhas internacionais nos primeiros andares do prédio. As pessoas que estão nos primeiros andares desse sistema, acreditam cegamente que elas merecem comer bem, uma vez que as pessoas dos andares debaixo comerão seus restos ou aquilo que elas rejeitaram. Mas, quem disse que algumas pessoas merecem se alimentar e outras não? A essa altura do filme, lá pelo 45º andar, haja estômago para ver as pessoas comendo os restos de comida, ora mijados e cágados que segue abaixo por uma mesa flutuante para os andares inferiores.
Seguindo aos andares mais profundos, o que vemos é a miséria humana produzida por um sistema econômico perverso, e este revela o que vemos a todo momento nas ruas e favelas das cidades do mundo e sobretudo no Brasil. Um país marcado historicamente 500 anos por saques, violência, subtrações e submissão. Além disso, nossa história foi reforçada pelo autoritarismo, que tem embaçado muitos corações e mentes, quando o assunto é ver como as pessoas que vivem à margem do sistema, tentam clamar por seus direitos fundamentais, tais como, habitação, terra, educação, saúde, entre outros. Nesse sentido, trazendo para os últimos acontecimentos no último domingo quando do pedido pela volta da intervenção militar e o AI-5, por uma parcela da população - essa mesma que subtraiu o verde e amarelo - de fato, não queira sequer enxergar a miséria do nosso povo e suas reais necessidades. Preferem se esconder em seus condomínios fortificados.
Ao longo do filme, diversas vezes os personagens são desafiados por uma voz e a ideia de uma criança “imaginária” no fundo do poço. Esse elemento segue por quase toda a narrativa, colocando em dúvida a existência e a veracidade dos fatos marcados pelo individualismo.Em minha leitura, o filme O poço é o retrato temporalizado também do Brasil, este marcado pela ignorância, o negacionismo histórico e científico, o do lucro e privilégio de alguns acima da vida de tantos outros e outras.
Contudo, o filme nos convida a revisitar os princípios civilizatórios e a construção de um outro tipo de sociedade, mais fraterna e solidária e fundada no direito à vida.
Que se faça a divisão igual da terra e de tudo que a partir dela é produzido pela humanidade.
